OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


7.7.03  

Orgulho e Vergonha

Sei que fazer activismo LGBT no Porto é difícil. E sei que a PortugalGay.pt tem feito um esforço impressionante para contrariar essa realidade, bem como grupos como a Nós, cuja existência é fundamental. Mas - e isto nada tem a ver com as qualidades dos meus "camaradas" do Norte - fui ao Porto Pride e não gostei muito. É difícil aceitar que se chame Pride a algo que acontece num espaço fechado como qualquer outra festa gay. Que acontece, de facto, como qualquer noite de uma discoteca gay. Fiquei infeliz por ver aquelas largas centenas de pessoas passando ao largo das bancas das associações. Sem terem sequer aquele impulso de comprar o merchandising da identidade LGBT. Um autocolantezito com um arco-íris, sei lá.... Circulando por ali com aquelas caras duras e fechadas que parecem querer dizer "a mim ninguém me come que sou muito macho mas quero desesperadamente que toda a gente me coma". Não gostei da onda. Não gostei da música bufta-bufta do princípio ao fim, sem nada de mais divertido ou irónico. Como já não tinha gostado do empregado no restaurante que murmurava ditos homofóbicos perante a nossa mesa de 14 alegres convivas. Como não gostei de ouvir dizer que o Café na Praça, supostamente um local de frequência gay, expulsa pessoas que se toquem ou demonstrem afecto e se recusa a deixar afixar cartazes ou panfletos do movimento LGBT. Fiquei com a desagradável impressão de um universo reprimido e clandestino. Uma má onda, com certeza sociologicamente explicável, que os meus amigos do movimento no Porto não merecem. A gayzada do Porto precisa de um estalo para ver se acorda e perde a vergonha. Para assaltar a rua de uma vez por todas.

mva | 14:45|