OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


7.7.03  

Afro-Bush

O Público de hoje dá uma importância desmesurada a uma viagenzeca qualquer que Bush vai fazer a África. É apresentada - nomeadamente por José Manuel Fernandes num editorial maior que o normal - como uma fantástica inovação do maravilhoso presidente. Esquece-se que Clinton fez a mesmíssima coisa. Ir a África, para um presidente americano, é fazer uma dupla operação de propaganda: perante os afro-americanos e perante os liberals, para mostrar que he cares. Nada virá dali, muito menos nas promessas de ajuda ao desenvolvimento e de luta contra a sida. Ao contrário do que o Público diz, a UE tem ajudado muito mais do que os EUA. E é isto que choca: de repente, Bush é a coisa mais importante no Público, as suas viagens têm direito a primeira página, e a UE é o punching bag. Esta importância dada a Bush não resulta da constatação de ele ser de facto o presidente do mundo (o que faria com que o jornal tivesse o dever de controlar o seu poder, para que este fosse mais de jure); resulta apenas de uma clara relação de amor entre a direcção do Público e o coiso de Washington, cujos efeitos são sobretudo nacionais. Espero que Bush se perca no bush africano. Depois o Público poderia fazer uma daquelas reportagens fantásticas, com JMF vestido com colete de repórter-caçador (nunca percebi aquelas fatiotas dos correspondentes de guerra...), e catana na mão, procurando o coiso-do-Texas por entre o capim.

mva | 14:57|