OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


2.6.03  

Neo -cons
No último número da New York Review of Books, Elisabeth Drew faz uma espécie de biografia colectiva dos neo-conservadores (ou neocons, o que, lido à francesa, soa a "os novos cons"). Ficamos a saber que os EUA também são um pequenino país. Aquela gente não só se conhece toda, como dois deles - o Perle e outra personagem de semelhante obscuridade - até celebram os aniversários de casamento em conjunto, ocasião para concorridos briefings de convertidos. "Convertidos" é mesmo a palavra mais adequada: ficamos também a saber que esta gente foi toda da esquerda universitária. Um belo dia converteram-se. E, quais cristãos-novos, ficaram mais papistas que o papa. É curioso pensar como o mesmo sucedeu em Portugal, agora dominado por um quarto poder onde pontificam os conversos cá da paróquia. Ele é o director do "Público"; ele é o pensador/provocador oficial do PSD; ele é o "Expresso". Já agora, distilo o meu ódio pelo pasquim em causa, que não compro há mais de um ano e a que não acedo pela Net porque eles querem que nós, navegadores, paguemos pela riqueza da informação que veiculam.... Acontece que o "Expresso" padece da síndroma da estupidez humana, uma vez que a pose dos editoriais e da imagem propagandeada do jornal é a de uma coisa inteligente, sólida, honesta e cheia de deontologia. Só que os nobres propósitos são alardeados por gente que, em bom americano, se pode qualificar como nitwits - gente poucochinha. Às vezes chega a ser risível como a pura e simples ignorância, e a subscrição de valorezinhos pacóvios e atrasados, é mascarada com o auto-convencimento de valor e qualidade típico dos medíocres. Mas a coisa desmascara-se por si própria de vez em quando, sobretudo quando a tentação pasquineira é mais forte que a auto-censura de quem se quer apresentar certinho. Espero, pois, que o Herman José invista rios de dinheiro numa belíssima perseguição ao jornal do balsemânico e sick império - para bálsamo das nossas almas de exilados nas províncias da Europa. Aliás, a bem dizer, quando começa toda a gente a processar jornais e televisões, não por questões de honra pessoal, mas por questões de saúde pública? De saúde democrática? De ataque à reprodução de preconceitos? De ataque à ingerência na Justiça e no segredo da dita?
Nos EUA, os neo-cons ou nitwits brincam perigosamente com o poder e as armas. Em Portugal assaltaram o quarto poder. Não sei o que é mais perigoso, sobretudo num país onde ninguém tem instrução e ninguém lê, pelo que é maior a dependência da informação veiculada pelos media.

mva | 17:43|