OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


12.6.03  

A exilada
Não só não simpatizo com Fátima Felgueiras, como não suporto o caciquismo municipal à portuguesa. Além disso, para todos os efeitos ela fugiu à justiça e fê-lo na qualidade de ocupante de um lugar político. Em vez de falar para o prime time de todas as TVs a partir do Rio, deveria estar calada, envergonhada e afogada em caipirinhas. Mas... mas acontece que senti um gozo perverso em ver uma pessoa dizer que é exilada política da "democracia" portuguesa (sim, Pacheco Pereira, também o discurso sobre a democracia pode ser newspeak a la Orwell, pois a democracia não é só o poder da maioria através do voto, mas a partilha do poder e, de facto, dos vários poderes...). Vivemos momentos em que nos pedem para confiarmos nas instituições, quando estas - Justiça incluída - é que têm, primeiro, que fazer com que mereçam essa confiança. E se há coisa vergonhosa para as leis portuguesas (e isto já se dizia antes de haver "notáveis" presos) é a figura da prisão preventiva também para crimes não violentos, por tanto tempo, e sem contemplar medidas alternativas de coacção. Portugal está de novo na vanguarda: desta feita, na vanguarda dos países de onde alguns dos seus cidadãos fogem e se consideram "exilados". Não fosse tratar-se da Dona Felgueiras, mãe-de-todos-os-caciques, eu rejubilava.

mva | 18:07|